10 de fevereiro de 2021

Por que o café colombiano é tão famoso?

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A Colômbia é o terceiro maior produtor de café do mundo atualmente, atrás apenas do Brasil e do Vietnã. Pergunte às pessoas qual é o melhor café do mundo: certamente muita gente vai responder que é o colombiano.

Embora o café cresça em dezenas de países em todo o Cinturão do Café, várias campanhas importantes – incluindo a criação do personagem Juan Valdez – têm ajudado a promover os interesses dos cafeicultores colombianos por décadas.

Para saber mais sobre a história do café colombiano e sua evolução, falei com dois especialistas da indústria. Continue a ler para saber o que disseram.

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Uma breve história do café colombiano

Embora o Brasil e o Vietnã estejam em primeiro e segundo lugar na produção mundial de café, a Colômbia ocupa o terceiro lugar e o segundo em termos de produção mundial de arábica.

No final de 2019, a Federação Nacional dos Cafeicultores (FNC) informou que a Colômbia era o maior produtor de cafés arábica lavados finos no mundo . Não é exagero dizer que o país se tornou reconhecido pela produção de arábica – embora a planta só tenha sido cultivada na Colômbia a partir do século XVIII.

Existem várias teorias sobre como a planta de Coffea Arabica chegou pela primeira vez à Colômbia. A mais amplamente aceita é que ela tenha sido trazida pelos missionários jesuítas holandeses no século XVIII, que plantaram as primeiras colheitas no nordeste montanhoso. A partir daí, espalhou-se por todo o país, à medida que as pequenas explorações agrícolas familiares a adoptaram, cada vez mais, como uma nova fonte de rendimento.

No entanto, foi apenas no início do século XIX que o país começou a exportar café em escala comercial. Apesar disso, no final do século XIX, a Colômbia se tornou um dos maiores exportadores de café do mundo.

Condições climáticas na Colômbia

Como sabemos, o café arábica é consideravelmente mais difícil de crescer do que o robusta. A espécie é incrivelmente sensível ao clima e requer altitude elevada e uma variação constante de temperaturas, que nunca fique muito quente ou fria. 

Alejandro Cadena é co-fundador e CEO do Caravela Coffee. Ele diz que parte da razão pela qual a Colômbia se tornou sinônimo de significativa produção de arábica é porque ela proporciona condições ideais para cultivar a planta.

“A combinação de ecossistemas, altitude e clima na Colômbia significa que existe uma grande variedade de microclimas”, diz ele.

“Juntamente com práticas agrícolas muito boas, [o que permite] que o país produza consistentemente café arábica durante todo o ano.”

Foco em boas práticas agrícolas

No entanto, as condições climáticas favoráveis, por si só, não são suficientes: As práticas agrícolas específicas são fundamentais para o sucesso da produção de café arábica de alta qualidade.

Ao cultivar o café especial, produtores de todo o mundo têm uma ampla gama de processos e variáveis a considerar, desde métodos de colheita e secagem até manejo meticuloso do solo e poda das plantas.

Para entender por que a Colômbia se destaca nessas áreas, falei com o CEO da Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia, Roberto Velez. Ele me disse que o país vem investindo na produção de café por um tempo.

“Através de uma combinação de pesquisa e desenvolvimento e assistência técnica, os cafeicultores são constantemente sensibilizados para a importância de seguir as melhores práticas de produção”, diz ele.

“Estas incluem a utilização de variedades resistentes à ferrugem, o plantio no momento certo, o aumento das densidades e a manutenção das plantas jovens para aumentar a produtividade, a qualidade e o rendimento.”

Alejandro concorda com Roberto, destacando o grande impacto que o investimento teve no estímulo do perfil da Colômbia na indústria cafeeira.

“Não só vimos investimento em marketing, mas também em pesquisa científica e assistência técnica, bem como em infra-estrutura pública e privada”, diz.

“Esta combinação de investimento climático e institucional é o que realmente tem influenciado a reputação da Colômbia como uma origem de alta qualidade há mais de 50 anos, tanto na mente dos torrefadores como dos consumidores.”

La Federación Nacional de Cafeteros

No início do século XX, a maior parte da produção de café na Colômbia estava nas mãos de alguns grandes produtores que operavam grandes propriedades, também conhecidas como haciendas. Os trabalhadores dessas haciendas eram camponeses, a população indígena e ex-escravos.

Em 1927, um grupo de produtores de café proeminentes da região da Zona Cafeeira se reuniu e formou a Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia (FNC). O objetivo era representar os agricultores na promoção e negociação de preços justos para a venda global do seu café.

No entanto, à medida que o impacto da Grande Depressão se espalhou ao longo dos anos 1920 e 1930, o preço global do café caiu abruptamente, fazendo com que muitas das haciendas colombianas quebrassem.

Numa tentativa de salvar a produção de café e combater a volatilidade dos preços, o governo comprou estas grandes fazendas, as dividiu e vendeu para os trabalhadores que poderiam plantar outras culturas juntamente com o café.

Desde então, o FNC manteve amplos esforços, em nome dos produtores colombianos de café, para alavancar a imagem do país como uma origem cafeeira no cenário global. Um desses exemplos surgiu em 1961, quando a organização criou o selo ” café 100% Colombiano”.

Alejandro diz que com este novo selo, valorizado como ferramenta de marketing, os produtores puderam “descomotizar e diferenciar o café colombiano no mercado [global]”.

Este foi um dos primeiros exercícios de branding de ingredientes no mundo – em todos os setores, e não apenas no café – e ficou caracterizado que os consumidores puderam identificar facilmente o café colombiano nas prateleiras dos supermercados. 

“Também ajudou a aumentar o preço premium do café colombiano que vemos hoje”, acrescenta Alejandro.

Quem é Juan Valdez?

Além do selo “café 100%  Colombiano”, uma grande parte do sucesso do café colombiano no cenário mundial pode ser, sem dúvida, atribuída à campanha Juan Valdez.

Primeiro “lançado” nos EUA em 1958, Juan Valdez é um produtor de café fictício, que apareceu pela primeira vez em anúncios para a FNC, juntamente com a sua mula, Conchita. Esta foi outra parte dos esforços da FNC para distinguir a Colômbia de outras origens no cenário global.

“A campanha ajudou a colocar o café colombiano nas mentes dos bebedores de café do mundo inteiro”, diz Alejandro. “Também ajudou a destacar o trabalho envolvido na produção do café, mostrando vídeos do trabalho nas fazendas de café.”

A campanha foi tão bem sucedida que rapidamente se associou não apenas ao café colombiano, mas também ao próprio país.

“A imagem de Juan Valdez não só criou uma marca de café, mas também definiu uma nação. Foi tão popular e bem-sucedido entre os consumidores dos EUA”, diz Alejando.

De acordo com um documentário sobre o fenômeno Juan Valdez, a imagem do cafeeiro e da sua mula representa respeito, tenacidade, compromisso e boa qualidade de produto.

Depois de quase 45 anos, a marca Juan Valdez se tornou tão reconhecida que a FNC a usou para lançar uma rede de cafeterias. Em 2002, a organização abriu a primeira cafeteria oficial Juan Valdez; quase 18 anos depois, a rede agora tem mais de 320 lojas em todo o mundo.

O café colombiano hoje

Mas mesmo que isso possa resumir o modo como a Colômbia chegou aonde está hoje, qual é a percepção do café colombiano no mercado global de hoje? 

Alejandro diz: “O café colombiano é reconhecido pela indústria do café como um produto fácil de vender graças à familiaridade e à qualidade premium que transmite aos consumidores.

“Para torrefações de café, é uma origem com qualidade acima da média, que está facilmente disponível durante todo o ano.”

Roberto tem uma perspectiva semelhante: “O café colombiano ganhou sua reputação mundial por si só”, diz. “Quando questionados sobre o que mais valorizam, os comerciantes e importadores destacam sua qualidade e consistência, que é derivada dos nossos padrões de exportação de alta qualidade.”

O sucesso da produção de café especial exige que vários fatores-chave trabalhem juntos, desde as condições climáticas certas e métodos agrícolas até pesquisa, assistência técnica e envolvimento do setor público. Ao longo dos séculos XX e XXI, a Colômbia teve tudo isso em abundância. 

Mas é possível que parte do sucesso da Colômbia, como uma origem de café mundial nos últimos 100 anos, seja mérito do FNC e das suas campanhas de marketing. E ainda que Juan Valdez e o selo “café 100% Colombiano ” sejam um jogo de marketing de café moderno, não parece que as coisas mudarão tão cedo.

Traduzido por Daniela Melfi

Crédito das imagens: Angie Molina Ospina, Ivan Petrich, Henry Wilson.

PDG Brasil

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