18 de janeiro de 2023

Elasticidade-preço da oferta: Como o preço do café afeta a disponibilidade?

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Se você estivesse em um negócio que de repente se tornasse 10 vezes mais lucrativo da noite para o dia, como você reagiria? Provavelmente, você permaneceria no negócio e trabalharia para aumentar suas vendas o máximo possível. Mas e se esse aumento na lucratividade durasse pouco? E se o seu negócio passasse de razoavelmente lucrativo para deficitário no mesmo espaço de tempo? Você desistiria e mudaria para outra coisa? Tudo isso tem a ver com o conceito da elasticidade-preço da oferta.

Em meu último artigo sobre  elasticidade-preço da demanda, focamos em como os consumidores e outros reagem às mudanças de preços. Desta vez, estamos olhando para a extremidade oposta da cadeia de suprimentos, para analisar como os cafeicultores e e demais trabalhadores da cadeia produtiva reagem à flutuação dos preços. Leia mais para descobrir.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre o que aconteceria se o café ficasse mais caro.

Mão em meio a grãos crus de café

Entendendo a elasticidade de preço de oferta

Simplificando, a elasticidade-preço da oferta é o quanto de um produto é disponibilizado ou retirado do mercado pelos vendedores em resposta a uma mudança no preço. Geralmente, à medida que os preço aumentam mais unidades são colocadas no mercado, e o inverso acontece quando eles caem.

No entanto, é importante lembrar que pode haver limitações à maior disponibilização de produtos em resposta às flutuações de preços.

No setor cafeeiro, quando o preço é alto e os agricultores aumentam sua produção. E como consequência da maior disponibilidade de café no mercado os preços começam a ser pressionados para baixo. Por outro lado, quando o preço é baixo, menos café é produzido e essa escassez pressiona os preços para cima.

Elasticidade-preço da oferta: os movimentos de preços são naturais? Devemos aceitá-los?

Na microeconomia convencional, geralmente damos como certo que esse conceito sempre funciona perfeitamente e que os mercados se auto regulam incondicionalmente.

No entanto, os mercados às vezes não conseguem fazê-lo, o que tem um impacto em toda a cadeia produtiva e é especialmente desconfortável par os agricultores, que ficam expostos a grandes riscos financeiros por serem mais vulneráveis economicamente.

Se as flutuações de preços são simplesmente a forma de o mercado se regular, é tentador aceitar que são eventos comuns e necessários à manutenção da “saúde” do mercado. No entanto, embora o preço do café mude em busca de equilíbrio entre oferta e demanda, esse processo pode acabar sendo, muitas vezes, violento e traumático.

Além disso, os movimentos de preços nem sempre são suficientes para atingir o equilíbrio de oferta e demanda, principalmente em períodos de preços baixos. Isso tem a ver com a elasticidade-preço da oferta.

Então, o que realmente acontece no setor cafeeiro?

No caso de agriculturas arbóreas, como o café, os mercados podem deixar de se auto-regular, ou fazê-lo tão lentamente que o efeito resultante é diferente ou mesmo oposto ao que seria considerado um comportamento racional.

A oferta aumenta e diminui em resposta ao preço (entre outras coisas), que flutua por muitas razões possíveis. Isso teoricamente representa o equilíbrio. Em teoria isso faz sentido, mas na prática pode ser muito diferente.

Quando o preço do café está alto, os agricultores muitas ampliam o plantio em suas lavouras. No entanto, essa resposta racional a um movimento de preços não aumenta a oferta imediatamente já que as novas árvores terão produtividade em escala comercial num intervalo de três a cinco anos.

A essa altura, o mercado pode ter já voltado a cair e o aumento no volume de grãos ofertados pressionará ainda mais um preço que pode já estar baixo. Isso fatalmente causaria prejuízos a quem plantou mais em função da alta anterior

Foi exatamente o que aconteceu durante a década de 1980, quando houve um influxo de novos cafés que haviam sido plantados após a geada de 1975 no Brasil.

E quando os preços caem?

O inverso também ocorre quando os preços caem, pois a única maneira de aumentá-los é reduzir a oferta. Como plantar e cultivar cafeeiros é um investimento significativo com retorno tardio, e os cafeeiros têm uma vida relativamente longa, é improvável que os produtores os cortem.

Perder seu investimento por causa de uma ou duas temporadas de preços baixos seria um pensamento de curto prazo. Em vez disso, os produtores vão resistir e esperam recuperar seu investimento nas temporadas seguintes.

Existem várias outras razões pelas quais os produtores, especialmente os pequenos, provavelmente não tentariam reduzir a oferta de café no mercado, mesmo quando os preços estão baixos.

Por exemplo, eles podem estar endividados por plantar esses cafeeiros não lucrativos e sem capital para fazer a transição para algo mais lucrativo. E mesmo que haja recursos para investir, pode ser que os produtores não decidam cultivar outras espécies por não terem o conhecimento de como realizar essa nova atividade.

Muitas regiões produtoras de café estão isoladas e economicamente dependentes do café, carecendo de outras oportunidades de renda. Assim, embora o mercado deva, teoricamente, se auto-regular, isso pode ser adiado enquanto milhões de famílias vulneráveis sofrem antes que eventualmente a oferta se reduza a um suposto nível de equilíbrio.

Incentivos e custos de oportunidade na elasticidade-preço da oferta

Quando os preços estão baixos, há um incentivo para reduzir a produção. Uma redução significativa só ocorre quando a produção e venda de café representa um custo de oportunidade.

Quando a rentabilidade cai abaixo dos lucros potenciais de fazer ou cultivar outra coisa, nos referimos à diferença como o “custo de oportunidade”. Este é o lucro perdido de não fazer aquela outra coisa mais lucrativa.

No entanto, como recursos significativos são geralmente investidos em uma plantação de café, esse custo de oportunidade geralmente precisa ser significativo o suficiente para que os produtores decidam abandoná-la e plantar outra coisa.

Quando há poucas ou nenhumas culturas alternativas para plantar ou oportunidades fora da fazenda, a elasticidade-preço da oferta seria muito baixa, o que significa que os produtores dificilmente reduzirão a oferta voluntariamente. O custo de oportunidade também seria muito baixo se não houvesse mais nada que eles pudessem fazer.

Isso significa que, se o preço do café cair e permanecer dolorosamente baixo, o mercado pode não experimentar uma redução de oferta suficiente para trazê-lo de volta por muito tempo. Durante esse período, operaria em estado de desequilíbrio.

Segundo algumas estimativas, o mercado global de café tem, de fato, operado por longos períodos em condições de excesso de oferta, como as que se seguiram às geadas no Brasil em 1975 e 1994

Em contrapartida, há momentos em que os preços estão altos e a rentabilidade do café se mostra mais atraente do que as culturas já instaladas. A decisão de plantar café pode ser simples se no local houver uma lavoura anual como cenoura, feijão ou milho.

E quanto à qualidade?

Além da decisão de produzir mais ou menos café, também temos que considerar o tipo ou a qualidade do café que os aumentos de preços incentivam. Quando o preço de venda é baixo, os produtores precisam buscar valor agregado, o que geralmente acompanha grãos com notas mais altas ou qualidade diferenciada.

Ao mesmo tempo, os compradores têm um poder de compra descomunal, porque podem conseguir café muito abaixo do teto de seus orçamentos. Em situações como essa, é comum que haja o oferecimento de bônus a produtores que atendam determinadas condições.

Por outro lado, quando os preços estão altos, os compradores têm menos capacidade de oferecer essas vantagens. Isso porque eles precisam pagar preços mais próximos do seu orçamento máximo que têm para a compra.

Além disso, nesta situação, os produtores estão mais bem equipados para impor suas próprias condições para o fornecimento dos grãos. Portanto, os compradores têm muito menos influência para exigir dos produtores métodos de processamento especiais e de alta qualidade.

Vimos esse fenômeno na Colômbia por meses após a agitação civil em maio de 2021. Uma grande parte dos produtores começou a vender pergaminho úmido no mercado ao preço da commodity. No entanto, ao fazer isso, eles estão ganhando, em muitos casos, muito mais do que ganharam com cafés especiais 12 meses antes.

Grãos de café secando em terreiro

Elasticidade-preço da oferta: especulação e cobertura

Neste ponto, precisamos entender que essas flutuações de preços não se baseiam exclusivamente na oferta e demanda de café. Em vez disso, eles são influenciados pelo contrato futuro do café, que reflete em grande parte a especulação técnica.

A maioria dos estudos mostrou que o preço futuro não necessariamente se movimenta contra os fundamentos físicos. Em vez disso, eles postulam que essas respostas são exageradas – o que significa que os altos são mais altos e os baixos são mais baixos do que seriam de outra forma.

Por que isso importa? Bem, é complicado, mas para simplificar, isso significa que a oferta de café real nem sempre está respondendo completamente à demanda por café. Em vez disso, está respondendo à demanda por contratos futuros de café – a grande maioria dos quais não vai se converter em compras físicas.

Da mesma forma, a demanda por café real não responde apenas à oferta de café, mas também à oferta de contratos futuros de café.

Digamos que a elasticidade-preço da oferta seja tal que um aumento de 10% no preço de mercado (com base no preço futuro) eventualmente cause um aumento de 10% na oferta global.

No entanto, hipoteticamente, a especulação técnica, e não a escassez de café físico, é responsável por metade dessa variação de preço.

Nesse caso, um aumento de 5% na oferta seria suficiente para cobrir a escassez. Então, em vez de simplesmente preencher uma necessidade, essa reação cria um excesso de oferta. Isso eventualmente faz com que os preços caiam. Com o tempo, a especulação técnica entra no jogo e escancara essa oscilação descendente.

Em resumo, sinais de mercado exagerados causam reações exageradas das partes envolvidas, o que resulta em volatilidade ainda maior. Esta é a força vital da especulação de curto prazo.

No setor cafeeiro, as mudanças de preços criam incentivos que teoricamente garantem que a quantidade ofertada seja igual à demandada.

O quanto os vendedores aumentam ou diminuem a quantidade que oferecem ao mercado em resposta às mudanças de preço é a elasticidade-preço da oferta. Isso depende de muitos fatores, mas é complicado porque o café é uma cultura de longo prazo.

Cada mudança apresenta uma oportunidade para alguns e adversidade para outros. No entanto, alguns atores estão mais bem posicionados para aproveitar as oportunidades e mais capazes de se proteger das adversidades. Além disso, isso se agrava ao longo do tempo com cada rali do mercado e cada queda.

Você também pode gostar  do nosso artigo sobre a história  inicial  do mercado C.

Créditos da foto: Karl Wienhold

 Tradução: Daniela Melfi.

PDG Brasil

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